Madre Paula


Madre Paula

 

Paula Teresa da Silva nasceu em Lisboa a 17 de junho de 1701 e foi batizada na freguesia de Santa Justa. Entrou no noviciado no Mosteiro de S. Dinis  em 1717, tendo feito profissão religiosa em 22 de Fevereiro de 1718.  

 

 

     Odivelas era um local assiduamente frequentado pela nobreza da corte na época em que Paula se tornou freira. Em 1719, realizou-se no mosteiro a festa do Desagravo do Santíssimo Sacramento (11 de Maio), promovida pelo conde de Penaguião e por Francisco de Assis de Távora, na qual se ofereceu "um magnífico jantar a toda a nobreza que assistiu" à cerimónia.

 

     No mesmo ano, a 23 de Outubro, ocorreu em Odivelas, com a presença da Corte, a tourada comemorativa do casamento de D. Brás Baltasar da Silveira e D. Joana de Meneses (filha dos condes de Santiago). Não faltariam, portanto, oportunidades para D. João V e os titulares que o rodeavam se deslocarem ao local.

 

   Nasceu a 8 de setembro de 1720, o infante D. José um dos"Meninos de Palhavãfruto da relação com D. João V. . Foi criado no palácio de Palhavã, com D. António e D. Gaspar, filhos de outras relações  do rei,  forma-se em Teologia pela Universidade de Coimbra e chega a inquisidor-mor em 1758. 

     

 

 Figura 1: Azulejos no Mosteiro de São Dinis.

 

Madre Paula vive sumptuosamente, mesmo após a morte do rei. 

 

Vem a falecer com 67 anos, sendo sepultada na Casa do  Capítulo  do Convento de Odivelas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  Figura 2:  Pedra tumular de Madre Paula. 

 

 

A Casa de Madre Paula

 

 

     A casa da Madre Paula foi mandada construir por D. João V. Ficava sobre a casa do capítulo, encostada à torre e tinha três andares. Para aceder ao 1.º piso subia-se uma escada ao lado do parlatório. Ali ficava a cozinha, que era decorada com azulejos onde figuravam os vários utensílios usados para cozinhar. O painel da chaminé representava uma cena mitológica.

     Este piso tinha mais seis divisões. Na maior delas guardavam-se 18 caixotões de lixa negra com pregaria de prata e estava toda cheia de prata com que se fez a copa e ainda sobrou muita, porque, dizem os manuscritos, ali se guardavam três baixelas. Havia ainda muitas outras arcas com roupas de casa e de vestir, adornos, fitas e mesmo jóias. O serviço era assegurado por nove criadas, que estariam instaladas neste piso.

     Sobre este, ficava o andar nobre, com oito divisões. Nele permaneciam, a maior parte do tempo, as pessoas que viviam com a madre Paula : as suas duas irmãs e, quando aqui vinha, o rei D. João V.

         A primeira casa, diz o manuscrito, “consta de melania com armação de fogo, com passamanes de fogo cor de ouro, toda a casa em redondo com sanefas de entalhado douradas.” Dos móveis, constavam duas papeleiras com espelhos dourados, com relevos e figuras douradas, dois bufetes  dourados, com espelhos que abrangiam toda a parede ; sobre cada bufete duas serpentinas de prata ; nas outras duas paredes, espelhos grandes, com armação de talha dourada. Doze cadeiras de veludo cor de fogo, com galões de ouro, com os braços e os pés de talha miúda, dourada.

 

 

 

 

 

 

 

Figura 3: Casa de Madre Paula.

 

 

 

 

 
  

 

 A segunda casa tinha a mesma decoração, mas com “armação de melania verde e galões de seda crua, cor de ouro. Repetiam-se os espelhos e os móveis, excepto as papeleiras, mas era sobrecarregada com as sanefas de dez portas e ainda um relógio de parede que “dava horas e tangia minuetes”.

     As doze cadeiras eram de veludo verde. Esta casa tinha uma varanda “toda de vidros cristalinos da Boémia”, o chão de xadrez de pedra, as paredes de talha dourada, com colunas e toda rodeada de pinturas e mobilada com tripeças de veludo cor de fogo, dois bufetes de charão negro e ouro e uma banca de veludo verde. Seguia-se um oratório com tribuna para a igreja e donde podiam assistir às celebrações litúrgicas. Tinha cortinas carmezim bordadas a ouro e era todo em talha dourada. No meio, N.ª S:ª da Graça e nos lados S. Bernardo e S. Bento e duas serpentinas de prata.

 

     A sala das refeições era “ toda armada em redondo de melania amarela, com passamanes e franjas de cor de pérolas, todas as armações da mesma cor, uma dúzia de tamboretes dourados, um bufete de charão negro e ouro e oito espelhos com armação de talha dourada, nas paredes".

     

 

Figura 4 e 5: Oratório de Madre Paula.

 

 

 

 

 

As divisões onde dormiam tinham todas “armação carmezim com passamanes de seda crua cor de ouro, cadeiras de damasco carmezim, tripeças de veludo da mesma cor, bufete de charão com dois pratos de prata alemã, uma caixa de lixa encarnada com pregaria e fecho de prata, para guardar os brincos do toucador, uma arca de charão dourada e em cima um espelho com molduras de prata e muita qualidade de brincos e de aviamentos e muitas peças de prata – bacia, jarro, escovas tesoura, salva, copos, campainha, bispote de prata metido numa arca de cristal, dentro de uma bolsa de veludo.

     O quarto de Madre Paula, além de tudo isto tinha “ dois escritórios de charão, dois bufetes, dois espelhos e um relógio de parede, uma dúzia de cadeiras carmezim, com pés e braços de talha dourada e passamanes de ouro.”

 

     Não posso deixar de fazer referência à cama, que também era mais rica do que a das suas irmãs pois era “ de melania carmezim, com o sobrecéu todo em tomados, com franjas e galões cor de ouro, o leito da moda, com uma lâmina de prata dourada, abrindo-se por três partes, com santos de ouro maciço em relevo, com um folhão de fita de ouro.”

 

   Paula tinha ainda um gabinete onde se toucava, no qual se repetia a decoração do quarto assim como alguns móveis, destacando-se uma arca de charão azul e ouro, e outra de lixa negra. A irmã mais velha tinha um gabinete igual. Dispenso-me de repetir as peças de prata, os espelhos e outros móveis que abundavam em todas as divisões. As paredes eram revestidas com painéis de azulejos, mesmo nos corredores e nas escadarias.

     

O 3.º piso era um grande salão, ricamente decorado e mobilado com grande luxo.  Em todos os tectos havia belas pinturas e talha dourada. O chão,  de madeira ou de pedra, tinha  sempre embutidos de várias cores, e os corredores eram iluminados por lampiões de cristal. A descrição em que me baseei não lhe faz referência, mas havia também uma espineta (antepassado do piano), com data e o nome do fabricante austríaco.

 

     Esta casa foi demolida em meados do século XX, durante uma campanha de obras, apesar de não estar em ruínas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Figura 6: Papeleira inglesa (1720) oferta de D. João V a Madre Paula. 

 

(Vaz, M. 2010. A Casa da Madre Paula. in http://odivelas.com/2010/01/15/a-casa-da-madre-paula/)